“Caro Presidente, escrevo esta carta com intuito de expor a minha opinião em relação às restrições financeiras em Angola, concretamente à proibição de mandar dinheiro para o exterior.
Antes de prosseguir irei apresentar-me. Sou um jovem angolano de 25 anos, não tenho nenhuma filiação política e não escrevo esta carta com o intuito de crítica, mas sim para expor a sua Excelência as dificuldades que os angolanos que estão no exterior estão a passar e propor alguma solução.
Sua Excelência Presidente José Eduardo dos Santos, nós estudantes angolanos no exterior estamos a passar grandes dificuldades por essa decisão tomada pelo Sr. Presidente, estamos a passar fome, contas em atraso. Quanto falo de contas em atraso, refiro-me à mensalidade da universidade, aluguer, conta de água, energia, etc..
Atrevo-me a dizer a sua Excelência que essa medida é arbitrária e consequentemente provocou insatisfação para quem mora no exterior e para os seus pais.
Pergunto ao Sr. como pai, estaria em paz sabendo que o seu filho está a passar por grandes dificuldades? Agora pergunto a sua Excelência como Presidente, como os jovens (força activa do povo) irá contribuir para o desenvolvimento do país, se estamos preocupados com o que comer do que focados no estudo?
Não mate o sonho dos jovens que querem contribuir para o desenvolvimento de Angola, muitos de nós saíram com intuito de contribuir e agregar valor para o país. Decisões arbitrárias provocam descontentamento e consequentemente rebelião. Eu e muitos angolanos no exterior só queremos formar-nos e capacitar-nos para contribuir para o nosso país.
Sei que o Sr. Presidente estudou no exterior e que provavelmente passou por diversas dificuldades, por isso, não nos faça passar por dificuldade desnecessária. Digo desnecessárias, uma vez que os nossos familiares têm condições de nos enviar dinheiro, mas estão impedidos devidos às restrições.
Acredito que sua Excelência tomou essa decisão devido à crise que assola o mundo, mas essa decisão está a afectar a credibilidade tanto económica e governamental de Angola.
Angola é um pais Democrático, e proibir a saída de dinheiro para o exterior é ferir o direito do cidadão “De ir e vir” (Somos livres?).
Por fim, Sr. Presidente reavalie a sua decisão e invista em outras fontes de riqueza que Angola tem, ainda somos um país rico em recursos minerais e naturais. Corte os gastos desnecessários que Angola tem com as suas empresas, exija mais retorno financeiro, mais sustentabilidade económica e exija que elas sejam referências para África e o mundo.
Crie estratégias para atrair investimento externos, facilite o acesso ao crédito e coloque o dólar em circulação o mais rápido possível, a valorização da moeda Nacional tinha que ser um processo progressivo e não instantâneo como foi, uma vez que o povo estava acostumado com as duas moedas (dólar e Kwanza), com o dólar em circulação não sentiríamos tanto o impacto da crise.
Que é feito do país que na era colonial foi considerado o celeiro de milho em África, o 3º maior produtor de milho em África? Onde está o nosso café Ginga, o excelente café que nos últimos anos do colono e primeiros da 1ª república independente deixou de ser vendido internamente, para ser produto de exportação dada mesmo a sua excelência? Onde está a Nova York no Huambo que já produzia roupa de alguma qualidade? Quantas indústrias coloniais destruímos em nome da angolanidade e que hoje fazem imensa falta?
Os países europeus estiveram e estão em crise. Mas nunca se ouviu dizer que as transferências de divisas para o exterior, por parte dos particulares, estavam proibidas e ou canceladas porque alguém precisa delas em proveito próprio.
Dizia alguém aquando da independência: “destruamos tudo o que é colonial, e construamos, façamos tudo de novo de acordo com o que nós angolanos queremos e desejamos, porque somos ricos!.”
Vista bem as coisas, aperceberam-se que o fundo do cofre (Tesouro nacional) estava rôto. A mania da grandeza dos angolanos ficou ferida de morte.
No entanto, este problema é de quase todos os dirigentes dos países de toda a África negra (subsaariana). Roubar o seu próprio povo em benefício próprio e depois para nos momentos de aflição económico-financeira arranjar ímpares subterfúgios e sem lógica nenhuma. É preciso devolver ao povo tudo o que lhes foi e está sendo roubado, esta é a hora.